Fotos Blog do Viegas e Arquivo da PM-MS
Essa quem conta é o colega Maranhão Viegas, que foi repórter da TV
Morena (afiliada Globo) e assessor de imprensa da Prefeitura de Campo
Grande na gestão do falecido Lúdio Coelho. Há alguns anos morando em
Brasília, o jornalista escreveu em 2010 o texto intitulado "Memórias da
profissão - votos fugidios" que você lê abaixo...
Havia um coronel da Polícia Militar muito famoso, em Mato Grosso do
Sul, Adib Massad (foto). Para ele, não tinha bandido bom. Era muito
duro no combate aos criminosos, o que ajudou a construir a sua fama.
Casos complicados? Chamem o Adib, ele resolve tudo. Às vezes, diziam,
utilizando-se de métodos nada convencionais. Mas resolvia.
Enquanto esteve no comando do temido GOF – Grupo de Operações de
Fronteira, reinava a segurança para uns e o temor para outros. E ele
ficou lá por um longo período, ao mesmo tempo, fazendo baixar os índices
de roubo, contrabando e tráfico de drogas e, com toda certeza,
reduzindo o número de bandidos também. Por muitos anos, naquela faixa de
Fronteira entre o Brasil e o Paraguai, o coronel foi a lei.
Convivi bem perto dele durante uma semana. Coronel Adib foi
escalado para resolver um seqüestro que comoveu a população. Um menino
de quatro ou cinco anos, Paulinho, filho de um médico muito querido, que
depois viria a ser eleito prefeito da cidade de Cassilândia, passou
quase sete dias nas mãos de um grupo de seqüestradores.
Eu era repórter da TV Morena, afiliada da Rede Globo, e fui
destacado para cobrir o caso. A comoção pelo seqüestro era tão grande
que o governador à época determinou ao secretário de Segurança que
transferisse a Secretaria para Cassilândia enquanto as investigações
durassem. Sete dias depois de iniciada a caça aos seqüestradores,
Paulinho foi solto, são e salvo e os bandidos presos. Nós, jornalistas,
conhecemos melhor o coronel Adib sua fama e seus métodos.
Tempos mais tarde, de tão famoso na região, o coronel resolveu
disputar o cargo de vereador, em Dourados. Foi uma missão difícil. Certa
vez, depois de passar o dia em campanha, o coronel resolveu fechar os
trabalhos fazendo uma última parada num boteco de beira de estrada, onde
um grupo de homens bebia e jogava bilhar.
A imagem do coronel assustava qualquer que fosse a circunstância.
Tinha um olho vazado, conseqüência de um tiroteio em que só ele sobrou
pra contar a história. O coronel desceu do carro e parou na porta do
bar. Um frio subiu a espinha dos que estavam presente. Ele não disse
nada e começou a apontar com o dedo, contando em voz alta como quem
confirmasse o número de pessoas ali. Havia sete homens, contando o dono
do bar.
Adib deu meia volta e foi correndo em direção ao carro. Retornou
com sete bonés e sete camisetas nos braços. Mas não encontrou viva alma
no boteco. Não houve sequer um corajoso para esperar pela volta do
coronel para descobrir o que ele queria. Vai que não fosse para
distribuir brindes de campanha?
Mesmo enfrentando esse tipo de dificuldade, naquele ano, o coronel
Adib venceu a eleição como o vereador mais votado de Dourados.