sexta-feira, 26 de dezembro de 2008



Edição do mês de dezembro de 2008
"Sexologia Forense"

Faz algum tempo escrevemos na Carta Forense um artigo sobre a classificação dos transtornos do instinto sexual, anotando os novos critérios do DSM - IV, da Associação Psiquiátrica Americana, que divide os transtornos sexuais em disfunções sexuais, transtornos da identidade de gênero e parafilias.

Especificamente a respeito das parafilias, também conhecidas como anomalias, desvios sexuais ou perversões, observamos que o DSM - IV elenca, no capítulo das parafilias, apenas oito quadros bem conhecidos e aceitos: exibicionismo, fetichismo, fetichismo transvéstico, frotteurismo, pedofilia, masoquismo sexual, sadismo sexual e voyeurismo, colocando todas as demais sob a denominação de parafilias sem outra especificação.

A Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), não varia muito do preconizado pelo DSM - IV, mas inclui as parafilias em uma seção diferente das tradicionais em sexologia, razão pela qual poderão existir modificações na próxima revisão (Serrano, 2002, p. 19).

Além dos descritos pelo DSM - IV, na oportunidade, abordamos, sucintamente, os seguintes desvios: auto-erotismo ou aloerotismo, clismafilia, coprofilia, coprolalia, cromo-inversão, edipismo, erotismo, erotografia ou erotografomania, erotomania, escatologia telefônica, etno-inversão, gerontofilia ou crono-inversão, lubricidade senil, necrofilia, ninfomania ou uteromania, onanismo, parcialismo, pigmalionismo, pluralismo ou triolismo, riparofilia, satiríase, topo-inversão, urofilia, vampirismo e zoofilia.

Neste artigo, procuramos trazer outras possíveis parafilias. Incluímos termos modernos que grassam na Internet, como ballooning, BBW, dolismo, cybersex, trampling, übersexual e outros relacionados, que apresentam sites específicos e possuem comunidades virtuais inteiras dedicadas ao tema
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A lista (em ordem alfabética), apesar de extensa, não é exaustiva:
Acomioclitismo - Atração sexual por genitais depilados.
Acrofilia - Atração sexual por aviões ou pela prática sexual no interior de aeronaves.
Acusticofilia - Prazer em ouvir sons específicos.
Agorafilia - Não é propriamente uma parafilia, mas indica o desejo incontrolável de praticar a cópula em lugares abertos, ou ao ar livre.
Alveofilia - Desejo de manter relações sexuais dentro de uma banheira.
Amaurofilia - Forma de fetichismo em que há atração sexual por parceiros cegos ou vendados.
Amomaxia - Prazer em manter relações sexuais no interior de veículos estacionados.
Anaclitismo - Excitação por objetos infantis como fraldas e chupetas.
Androginofilia - Preferência por figuras andróginas e hermafroditas.
Anofelorastia ou hierofilia - Prazer sexual decorrente da profanação de objetos sagrados.
Asfixiofilia - Ou asfixia erótica, é uma parafilia em que o estímulo sexual decorre do ato de constrição do pescoço do parceiro até quase a perda da consciência antes ou durante a penetração.
A.S.F.R. - Sigla que em inglês significa "alt sex fetish robot", prática fetichista em que o prazer sexual está em manter relações sexuais com autômatos ou pessoas que se fazem passar por robôs, obedecendo rigorosamente aos comandos do "programador".
Autoagonistofilia - Forma de exibicionismo em que o estímulo sexual provém de se deixar ver por terceiros durante o ato sexual.
Autonefiofilia - Prazer em praticar sexo caracterizado como uma criança.
Autoescopofilia - Forma de narcisismo em que há prazer na admiração dos próprios genitais.
ATM ou A2M - Modalidade de coprofilia. A sigla em inglês significa "ass-to-mouth" (do ânus para a boca). Não é propriamente uma parafilia, mas uma prática sexual bastante difundida em filmes pornográficos, em que após o coito anal o pênis é colocado diretamente na boca da parceira ou de terceira pessoa.
Auto-erotismo ou aloerotismo - Nessa modalidade, o ápice sexual é atingido sem a presença do parceiro, apenas de modo contemplativo, perante uma pessoa ou um retrato.
Ballooning - Forma de fetichismo em que os portadores, denominados looners, sentem excitação sexual ao ver ou tocar balões de látex ou ver mulheres interagindo com eles.
BBW - A sigla significa "big beautiful woman" (mulher gorda e bonita), ou seja, indica atração sexual por mulheres gordas, porém bonitas ou atraentes. Os admiradores de mulheres com esse tipo físico se chamam "fat admirers" ou simplesmente "FA".
Biastofilia e raptofilia - Termo derivado do grego biastes (violação) a biastofilia é uma parafilia em que o desejo sexual depende ou responde ao ato de atacar de forma inesperada e violenta a uma pessoa, preferencialmente estranha, sem o seu consentimento. É um desvio que pode ser observado nos assassinos seriais. Em sentido oposto, quando o desejo sexual surge da possibilidade de ser vítima desses ataques, estamos diante de uma raptofilia.
Body integrity identity disorder, apotemnofilia e acrotomofilia - Descrita originalmente em 1977 como Amputee Identity Disorder (AID) a Body Integrity Identity Disorder (BIID) é uma condição psicológica na qual os afetados experimentam desejo incontrolável de ver amputadas partes de seus próprios corpos, de modo a atingir a imagem ideal que têm de si mesmos. Vivem o paradoxo de perder um ou mais membros para poderem tornar-se completos (menos é mais).

Os portadores desse quadro não são psicóticos, até porque o diagnóstico de esquizofrenia ou outros transtornos psicóticos exclui o da BIID. Na verdade o quadro pode ser comparado ao transtorno da identidade de gênero, porque em ambas as condições os pacientes relatam que a insatisfação com o corpo atual está presente desde a pré-adolescência.

Quando o desejo de ser amputado está relacionado com o prazer sexual, então estamos diante de uma parafilia denominada apotemnofilia, caracterizada pela excitação ou facilitação do orgasmo em razão da fantasia de se sentir amputado. Os indivíduos portadores desse quadro são conhecidos como wannabes (pessoa que deseja ser igual à outra, no caso, aos deficientes físicos).

Quando a excitação sexual ou o orgasmo está ligado à necessidade de manter relações com uma pessoa amputada a parafilia é denominada de acrotomofilia e as pessoas portadoras desse quadro denominadas devotees (devotos, dedicados) ou amelotatistas.

Braquioproctosigmoidismo - fisting - Atividade sexual relativamente comum entre homossexuais masculinos em que o parceiro reclama, como principal forma de prazer, a introdução dos dedos, mão ou mesmo o antebraço através do ânus até o reto. A prática é também conhecida como fist fuck ou simplesmente fisting. A denominação inglesa vulgar engloba também o ato de introduzir o punho através da vagina.

Cleptolagnia ou cleptofilia - Prazer sexual no ato de subtrair bens alheios.
Crematistofilia - Excitação proveniente do ato de pagar pela prática sexual.
Dacriofilia - Forma de sadismo em que o prazer sexual decorre de presenciar as lágrimas do parceiro.
Dismorfofilia - Atração sexual por pessoas deformadas.
Dolismo - Neologismo formado do vocábulo inglês "doll" (boneca), que indica a atração sexual por bonecas, manequins e similares. É uma forma de pigmalionismo.
Dom-juanismo - Personalidade que se manifesta compulsivamente às conquista amorosas, sempre de maneira ruidosa e exibicionista e sem que se estabeleça uma relação emocionalmente estável.
Emetofilia - Prazer sexual com a visão de pessoas vomitando ou contato com a substância emética.
Entomocismofilia - Atividade sexual que incorpora insetos como moscas, abelhas, aranhas etc.
Escoptofilia - Forma de voyeurismo caracterizada pelo prazer em observar relacionamento sexual de terceiros pelo telescópio.
Estigmatofilia - Excitação por tatuagens, cicatrizes, piercings e similares.
Falofilia - Predileção por parceiros sexuais com pênis avantajados.
Figefilia - Pratica sexual com cartas ou correspondência.
Filatelofilia - Prazer sexual com selos postais.
Flagelatismo ou flagelação - Forma de fetichismo, geralmente relacionado com o sadomasoquismo, em que o sofrimento do parceiro é especificamente infligido por meio de chicotadas.
Uma variante é o bondage (escravidão, servidão), na qual o prazer é obtido pelo ato de amarrar e imobilizar o parceiro ou pessoa envolvida. Pode ou não envolver a prática de sexo com penetração.
Flatofilia - Forma de coprofilia caracterizada pelo prazer em sentir o odor dos gases intestinais provenientes do parceiro.
Fobofilia - Excitação sexual através do medo. Prazer em sentir medo.
Frutifilia - Atividade sexual envolvendo frutas.
Hibristofilia - Atração sexual por pessoas que tenham cometido crimes graves ou atos de atrocidade.
Hipnofilia ou onirofilia - Excitação em contemplar pessoas adormecidas.
Hirsutofilia - Atração sexual por pessoas com grande quantidade de pelos.
Homiliofilia - Prazer sexual em assistir conferências.
Iatronudia - Excitação no ato de desnudar-se perante o médico.
Iconolagnia ou pictofilia - Estímulo sexual exacerbado diante de arte erótica ou pornográfica.
Lactofilia - Atração sexual por mulheres em período de amamentação.
Metrossexualismo e übersexualismo - Uma forma de narcisismo masculino é atualmente denominada metrossexualidade. O termo metrossexual, cunhado em 2003, é utilizado para definir o homem urbano de grande senso estético e que gasta boa parcela de seu tempo e dinheiro (mais de 30%) com sua aparência e estilo de vida. Já o übersexual é o homem que tem estilo, preocupa-se com a aparência, mas sem exagero.
Ofidiofilia - Prazer na prática de manobras sexuais envolvendo serpentes.
Partenofilia - Excessiva atração por mulheres virgens.
Pigofilia - Excitação sexual pela visão ou contato com as nádegas do parceiro.
Pregnofilia e maieusofilia - A pregnofilia é o desejo ou atração sexual por mulheres grávidas. A maieusofilia consiste em sentir excitação sexual pela visualização do trabalho de parto.
Sexo virtual, cybersex, computer sex, internet sex ou net sex - Forma de masturbação em grupo, praticada através da Internet. Como o foco do desejo fica centrado na virtualidade do prazer sexual, contribui para um isolamento sócio-afetivo.
Tafofilia - Prazer mórbido em manter relações sexuais em cemitérios.
Timofilia - Atividade sexual com a utilização de dinheiro.
Trampling - O trampling (pisoteamento) é uma forma de fetichismo em que o prazer sexual consiste em ser pisado por um ou mais parceiros, geralmente do sexo oposto, sendo mais comum a mulher pisotear o homem.

Troca de casais ou troca interconjugal - Também chamada de swing, pode não significar mais que um simples desejo da troca de parceiros para aquecer a vida sexual do casal e, nesse sentido, não pode ser tido como uma aberração ou desvio. Caso se torne uma obsessão, então poderá ser tomada como desvio. A prática do sexo grupal, ainda que pelo casal, pode ser classificada como pluralismo.

Como salientamos anteriormente, não há um consenso entre os autores a respeito de quais sejam as aberrações, quais os simples desvios do instinto sexual sem maior importância ou mesmo quais as práticas consideradas normais, até porque é correto admitir que se possam incorporar novos elementos, formas de expressão e satisfação de modo a enriquecer e atingir a plenitude da vida sexual.

A sexualidade alcança níveis de anormalidade ou desvio somente quando não há flexibilidade do desejo, quando a expressão, a satisfação e o prazer só podem ser obtidos mediante práticas específicas e determinadas, dirigidas a uma modalidade sexual atípica, objetos inanimados ou animais.

Necessário, ainda, considerar as convenções sociais e o momento histórico. Determinadas práticas como o homosexualismo ou a masturbação, já foram consideradas sérios distúrbios e atualmente são tidas como mera expressão da sexualidade.

Referências
BIID - Body Integrity Identity Disorder. Disponível em <http://www.biid.org/>. Acesso em 20 de janeiro de 2008.
Colombino, Andrés Flores. Posta as dia: Parafilias. Revista Argentina de Sexualidad Humana, ano 13, n. 1, 1999, págs. 7 a 35.
Del-Campo, Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal (Coleção curso e concurso). 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Serrano, Rubén Hernández. Parafilias. Revista Venezolana de Urologia, v. 50, n. 2, 2004, págs. 64 a 69.
Serrano, Rubén Hernández. Parafilias: Uma clasificación fenomenológica. Actas Españolas de Psiquiatría, v. 30, n. mong. 1, 2002, págs. 19 a 23.
Vitiello, Nélson. Um breve histórico do estudo da sexualidade humana. Revista Brasileira de Medicina. São Paulo: Moreira Júnior, v. 55, nov. 1998. Disponível em <www.drcarlos.med.br/sex_historia.html>. Acesso em 20 de fevereiro de 2007.

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